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Museu da Democracia
Patrimônio
Heritage

Localização

Location

Salvador, Brasil

Ano

Year

2024

Projeto

Project

Rodrigo Sena + Espressa Arquitetos (Flávio Marques, Leonardo Stanziola, Luciano Goulart e Técio Martins)

Área

Area

4.500m²

Imagens

Images

Luciano Goulart e Rodrigo Sena

PT

É sintomático que no ano de 2020 devamos voltar a defender a democracia no Brasil. Em mais de 130 anos, com percursos sinuosos, chegamos a um momento que ela é constantemente atacada por indivíduos que dela se valeram para chegar ao poder. Olhar para o processo de formação da nossa democracia é uma tarefa importante e nossa escolha para o local do projeto está diretamente vinculada a essa história. O sítio escolhido para a implantação do Museu da Democracia é, portanto, um posicionamento firme frente à escalada de discursos autoritários e negacionistas no Brasil. Tomar uma preexistência é ratificar a importância de olharmos para a nossa formação historiográfica, de maneira profunda e sem quaisquer desvios, reconhecendo méritos e momentos sombrios que fizeram parte da história dessa edificação. Sendo, por sua vez, uma edificação de caráter militar, decidimos por defini-la como área pública, de auxílio e manutenção da ordem democrática, conquistada às custas de muitas vidas e esforços de brasileiras e brasileiros. O Forte de São Pedro, em Salvador, além de reunir todas essas características é um edifício situado na região central da cidade, local de constantes manifestações populares em favor da democracia. Somado a isso, o Forte de São Pedro, situado no bairro do Campo Grande em Salvador/BA, apresenta um contexto simbólico importante na luta pelos valores democráticos, pois é onde foi proclamada a república no Estado da Bahia. É significativo que a república, uma das principais conquistas em direção à democracia, tenha sido defendida dentro de uma instituição militar. Esse fato deve ser relembrado, a fim de que possamos entender o verdadeiro papel das instituições. Por isso, adentrar uma fortificação militar nos tempos atuais, para a implantação do Museu da Democracia é uma forma de demonstrar para a população brasileira, tanto que as instituições de Defesa devem agir em favor da democracia, como relembrar para as próprias organizações militares que elas não devem esquecer de suas importantes contribuições para a democracia brasileira. O projeto respeita a preexistência, sem intervenções formais ou volumétricas de grande impacto na edificação, de modo a manter na paisagem urbana uma edificação importante para a morfologia da cidade de Salvador. A entrada principal é posicionada na lateral da edificação, em um singelo volume que emerge do solo, como entendimento de que foram através de desvios e desobediência civil em certos momentos sombrios na historiografia da democracia, que se chegou ao acervo da Comissão Nacional da Verdade, localizado no subsolo, acessível ao usuário através de uma escada rolante. O volume enterrado funciona como a principal área de exposições dos documentos organizados pela Comissão Nacional da Verdade, ocupando a parte mais importante da intervenção. Com materialidade austera e objetiva, indica ao usuário o posicionamento abaixo do nível comum e envolvido em um ambiente no qual o acesso à informação é mais importante que qualquer definição de caráter arquitetônico. Somente as aberturas para entrada da escassa luz zenital permite algum tipo de interferência na Área de Exposições. As placas metálicas em diferentes angulações, cobrem a área de exposição e dão forma ao Memorial dos Mortos e Desaparecidos no pátio existente, para onde convergem os olhares, valorizando a memória dos defensores da democracia que perderam suas vidas. Além de ser o Memorial, permite também que parte do acervo da Comissão possa ser visto de longe, porém para ser completamente compreendido, precisa de maior aproximação. O restante da edificação existente, por sua vez, recebe o programa administrativo e de apoio ao museu, como cinema/auditório, exposições temporárias e biblioteca, na edificação existente com aproximadamente 4.500 m². Além das áreas administrativas, os baluartes do Forte são acessíveis pela população como área pública, de onde se tem importantes cones visuais de pontos também simbólicos para a democracia na cidade de Salvador: o Palácio da Aclamação, a Praça Dois de Julho, a Avenida Sete de Setembro e a Baía de Todos os Santos.

EN

It is symptomatic that in 2020 we must once again defend democracy in Brazil. In more than 130 years, with winding paths, we have reached a moment when it is constantly attacked by individuals who used it to come to power. Looking at the process of formation of our democracy is an important task and our choice for the location of the project is directly linked to this history. The site chosen for the implementation of the Museum of Democracy is, therefore, a firm position in the face of the rise of authoritarian and denialist discourses in Brazil. Taking a preexisting view is ratifying the importance of looking at our historiographical formation, in depth and without any deviations, recognizing the merits and dark moments that were part of the history of this building. Being, in turn, a building of military nature, we decided to define it as a public area, for aiding and maintaining the democratic order, achieved at the cost of many lives and efforts of Brazilians. The São Pedro Fort in Salvador, in addition to having all these characteristics, is a building located in the city center, a place of constant popular demonstrations in favor of democracy. In addition, the São Pedro Fort, located in the Campo Grande neighborhood in Salvador/BA, presents an important symbolic context in the fight for democratic values, as it is where the republic was proclaimed in the State of Bahia. It is significant that the republic, one of the main achievements towards democracy, was defended within a military institution. This fact should be remembered so that we can understand the true role of institutions. Therefore, entering a military fortification in the present day to establish the Museum of Democracy is a way of demonstrating to the Brazilian population both that Defense institutions must act in favor of democracy and reminding the military organizations themselves that they must not forget their important contributions to Brazilian democracy. The project respects the pre-existing structure, without any formal or volumetric interventions that would have a major impact on the building, in order to maintain an important building for the morphology of the city of Salvador in the urban landscape. The main entrance is located on the side of the building, in a simple volume that emerges from the ground, as an understanding that it was through deviations and civil disobedience in certain dark moments in the historiography of democracy that the collection of the National Truth Commission was reached, located in the basement, accessible to the user via an escalator. The underground volume functions as the main exhibition area for the documents organized by the National Truth Commission, occupying the most important part of the intervention. With austere and objective materiality, it indicates to the user that it is below the common level and surrounded by an environment in which access to information is more important than any definition of architectural character. Only the openings for the entry of the scarce zenithal light allow some type of interference in the Exhibition Area. The metal plates at different angles cover the exhibition area and give shape to the Memorial of the Dead and Disappeared in the existing courtyard, where the eyes converge, valuing the memory of the defenders of democracy who lost their lives. In addition to being the Memorial, it also allows part of the Commission's collection to be seen from afar, but to be fully understood, it needs to be closer. The rest of the existing building, in turn, houses the museum's administrative and support program, such as a cinema/auditorium, temporary exhibitions and a library, in the existing building measuring approximately 4,500 m². In addition to the administrative areas, the Fort's bastions are accessible to the population as a public area, from where there are important visual cones of points that are also symbolic of democracy in the city of Salvador: the Palácio da Aclamação, Praça Dois de Julho, Avenida Sete de Setembro and Baía de Todos os Santos.
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