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Dell'Architettura
A presença italiana na paisagem soteropolitana
Expografia
Expography

Localização

Location

Salvador, Brasil

Ano

Year

2022

Projeto

Project

Rodrigo Sena

Montagem

Assembly

Antônio Arouca (Tozinho) e Leno

Fotos

Photos

Rodrigo Sena

PT

Texto do curador, Nivaldo Andrade Nas três primeiras décadas do século passado, a paisagem soteropolitana foi transformada de forma indelével por um grupo de imigrantes italianos: engenheiros, arquitetos, construtores, decoradores, pintores e escultores, oriundos das mais diversas regiões italianas, da Calábria à Toscana, da Basilicata ao Lácio, do Piemonte à Sicília. Estes personagens tiveram um papel fundamental na modernização urbana de Salvador, contribuindo para a difusão de uma nova linguagem arquitetônica: o Ecletismo. Caracterizada pela profusão de ornamentos tanto nas fachadas quanto nos interiores, contrastando com a vetustez dos sobrados coloniais que ainda predominavam em Salvador, o Ecletismo foi, como observa o pesquisador italiano Luciano Patetta, a primeira expressão arquitetônica a ter alcançado uma verdadeira difusão global, disseminando-se por contextos tão distintos quanto as capitais dos novos países independentes da América do Sul, como Rio de Janeiro, Buenos Aires e Montevidéu; as então colônias inglesas, francesas, holandesas e portuguesas na África e na Ásia; ou ainda as nações orientais que começavam a se abrir para o Ocidente, como o Japão e a Turquia. A arquitetura eclética concilia referências a diversos estilos arquitetônicos do passado, muitas vezes em um mesmo edifício, com bastante liberdade e fantasia. Para Gustavo Rocha-Peixoto, “a atitude eclética [...] corresponde à acomodação de várias referências no tempo. Variando ou mesmo mesclando ‘tempos’ históricos diferentes, procurava-se produzir uma arquitetura ‘fora do tempo’.” No Brasil, o Ecletismo é a arquitetura dominante no período da República Velha (1989-1930) e, como registra Paulo Ormindo de Azevedo, “está indissoluvelmente associado ao surgimento de uma burguesia urbana ligada ao aumento das exportações e importações, à ampliação dos serviços e do comércio e instalação das primeiras indústrias, em consequência da inserção do Brasil no mercado mundial. Não se pode separar também o novo estilo da reforma urbana realizada em algumas capitais do país, notadamente Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém e da imigração europeia, bem como da abolição da escravatura, que pôs em xeque não só os sistemas construtivos tradicionais, como o funcionamento dos serviços urbanos e domésticos.” O Ecletismo também incorporou à arquitetura, pela primeira vez, sofisticados elementos de ferro e vidro fabricados na Inglaterra, Bélgica, Alemanha, França ou Estados Unidos, como podemos observar, por exemplo, na monumental escadaria do Palácio Rio Branco ou na elegante marquise lateral do Palacete do Comendador Bernardo Martins Catharino. Dentre estes personagens, os primeiros italianos a chegar a Salvador foram artistas, como o escultor Pasquale De Chirico, natural de Potenza, e o pintor florentino Oreste Sercelli, que aqui aportaram, vindos de São Paulo, por volta de 1905 para trabalhar na reconstrução da antiga Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, a convite do engenheiro Theodoro Sampaio, diretor da obra. Os profissionais da construção civil, por sua vez, somente começaram a se instalar em Salvador no início da década de 1910: Battista Rossi em 1911, proveniente do Rio de Janeiro; Alberto Borelli no ano seguinte, vindo de São Paulo; Filinto Santoro em 1913, após trabalhar no Rio de Janeiro, Vitória, Manaus e Belém. Esses profissionais eram chamados de “arquitetos”, embora apenas alguns, como Santoro e Giulio Conti, tivessem formação em engenharia e a maioria não possuísse nível superior, sendo, na realidade, capocantieri ou capomastri, o equivalente aos nossos mestres-de-obras. A obra que assinalou o início deste processo em Salvador é o palacete do Comendador Bernardo Martins Catharino, atual Palacete das Artes. Para projetá-lo, o proprietário trouxe, da então capital, o “Architecto Constructor” Battista Rossi, que se consolidaria como o projetista preferido da nova burguesia baiana. Santoro, por sua vez, foi o autor das principais obras públicas das décadas de 1910 e 1920. Outros projetistas e construtores italianos atuantes em Salvador neste período, como Alberto Borelli, Giulio Conti e Michele Caselli, são personagens dos quais se dispõe de pouquíssima informação. Não se sabe se residiam aqui ou em outras capitais, de que região da Itália procediam e, em muitos casos, nem mesmo se tinham alguma formação acadêmica. Esta exposição fotográfica, promovida pelo Istituto Italiano di Cultura do Rio de Janeiro, visa lançar luz sobre a produção dos Santoro, Rossi, Conti, Borelli, De Chirico, Rebecchi, Caselli e tantos outros que contribuíram para modernizar nossa cidade e cujos traços ainda marcam a nossa paisagem urbana. E é ainda mais representativo que esta exposição se materialize no Palacete Catharino, obra símbolo dessa produção.

EN

Text by curator Nivaldo Andrade In the first three decades of the last century, the landscape of Salvador was indelibly transformed by a group of Italian immigrants: engineers, architects, builders, decorators, painters and sculptors, from the most diverse Italian regions, from Calabria to Tuscany, from Basilicata to Lazio, from Piedmont to Sicily. These figures played a fundamental role in the urban modernization of Salvador, contributing to the spread of a new architectural language: Eclecticism. Characterized by the profusion of ornaments on both facades and interiors, contrasting with the antiquity of the colonial mansions that still predominated in Salvador, Eclecticism was, as Italian researcher Luciano Patetta observes, the first architectural expression to have a truly global diffusion, spreading across contexts as diverse as the capitals of the newly independent countries of South America, such as Rio de Janeiro, Buenos Aires and Montevideo; the then English, French, Dutch and Portuguese colonies in Africa and Asia; or even the Eastern nations that began to open up to the West, such as Japan and Turkey. Eclectic architecture combines references to various modern styles of the past, often in the same building, with a great deal of freedom and fantasy. For Gustavo Rocha-Peixoto, “the eclectic attitude [...] corresponds to the accommodation of various references in time. By varying or even mixing different historical ‘times’, the aim was to produce an architecture ‘outside of time’.” In Brazil, Eclecticism was a dominant form of architecture during the Old Republic (1989-1930) and, as Paulo Ormindo de Azevedo notes, “it is inextricably associated with the emergence of an urban bourgeoisie, the increase in exports and related activities, the expansion of services and commerce and the installation of the first industries, as a result of Brazil’s insertion into the world market. The new style of urban reform carried out in some of the country's capitals, namely Rio de Janeiro, Salvador, Recife and Belém, cannot be separated from European immigration and the abolition of slavery, which challenged not only traditional construction systems but also the functioning of urban and domestic services.” Eclecticism also incorporated sophisticated iron and glass elements manufactured in England, Belgium, Germany, France or the United States into architecture for the first time, as we can see, for example, in the monumental staircase of the Rio Branco Palace or in the elegant side canopy of the Palace of Comendador Bernardo Martins Catharino. Among these figures, the first Italians to arrive in Salvador were artists, such as the sculptor Pasquale De Chirico, a native of Potenza, and the Florentine painter Oreste Sercelli, who arrived here from São Paulo around 1905 to work in the mansion of the former Faculty of Medicine, in Terreiro de Jesus, at the invitation of the engineer Theodoro Sampaio, the director of the project. The construction professionals, in turn, only had to settle in Salvador in the early 1910s: Battista Rossi in 1911, coming from Rio de Janeiro; Alberto Borelli the following year, coming from São Paulo; Filinto Santoro in 1913, after working in Rio de Janeiro, Vitória, Manaus and Belém. These professionals were called “architects”, although only a few, such as Santoro and Giulio Conti, needed engineering training and most did not have higher education, being, in reality, capocantieri or capomastri, the equivalent of our construction foremen. The work that marked the beginning of this process in Salvador is the palace of Comendador Bernardo Martins Catharino, currently the Palácio das Artes. To design it, the owner brought in the “Architect Builder” Battista Rossi, who would establish himself as the preferred designer of the new Bahian bourgeoisie. Santoro, in turn, was the author of the main public works of the 1910s and 1920s. Other Italian designers and builders who worked in Salvador during this period, such as Alberto Borelli, Giulio Conti and Michele Caselli, are figures about whom very little information is known. It is not known whether they lived here or in other capitals in the region of Italy and, in many cases, they did not even have any academic training. This photographic exhibition, promoted by the Italian Institute of Culture of Rio de Janeiro, aims to shed light on the work of Santoro, Rossi, Conti, Borelli, De Chirico, Rebecchi, Caselli and many others who worked to modernize our city and whose characteristics still mark our urban landscape. And it is even more representative that this exhibition takes place at the Palacete Catharino, a work that symbolizes this production.
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